À MEDIDA DO TEMPO





A cor do tempo não é a cor dos sons.


A do tempo ensina-nos que o beijo ama mas também nos despede.


A da cor do som promete o sabor prolongado do beijo inesquecível logo aos primeiros acordes.

AMORES





Fomos apanhados numa teia chamada tempo que nas linhas tecidas finas fortaleceram a saudade de nunca nos termos conhecido.


E no entanto, este é o tanto do quanto te amo.

COM O TEMPO...





Escrevo, descrevo-te, invento-te saudade, caminhos de linhas em letras perdidas dentro do meu peito.


Nunca as saberás.


Sopro-as ao vento, chama-lhes brisa.


Eu chamo-lhes tempo.

À FRENTE DE TI





Estou no futuro de ti.
Naquilo que desejas.
No mais à frente em que persegues e não agarras, o sonho, a quimera de mil palavras.
Um dia desapareço, nada mais por onde andares na busca, acordas.
Será tarde, demasiado para o retorno.

VADE RETRO





O teu gostar tem do mais traiçoeiro sabor a cor do pecado e do imperdoável.


Agarro-me a mezinhas de escárnio para te rir no som da melodia que me lanças.


Mas quanto mais longe mais dentro te tornas.

PESADELO





Colcheias e bemóis debatem-se num voo aguerrido contra as paredes do meu sentir.


Nas sombras velozes surge o meu passado incolor, gemidos de séculos em que sofri apertada por outra de mim, armadura de um amor perdido.


Luto contra as sombras da parede, firo punhos e olhares, rompe-se o coração destronado pela melodia da cor.


E no final, do pesadelo apenas restam as gotas de suor. E uma clave de sol deixada para trás.

MEMÓRIAS DOS SONS






No pó das palavras engulo dores esquecidas, dissolvo-as no céu da boca, sinto-lhes de novo o amargo do momento, deixo-as queimar-me na lentidão dos minutos eternos enquanto ao longe, o som da tua musica me traz à vida.

FONTE DO SOM





O som adorna-me com reginas cores como só a essência da alma o sabe.


Sou pássaro, fruto, água, voo, alimento-te, canto-te sedes que desconhecías.


Agora que o sabes sustenido algum te bastará.

SEM VOZ





De todas as vezes que eu quiser e tu precisares.


No silêncio de não saber quem sou.


No grito embutido na tua garganta.


No sorriso dos olhos e nas lágrimas da boca.


Salva-me. Mais uma vez.

CHAMA-ME





Flutuo.


São águas mornas que me divagam como sonhos brancos e tranquilos.


Num mundo paralelo derreto memórias de tempos que não vivi mas alimento os meus sonhos de sons coloridos, fábrica de poderes, construo histórias a três dimensões e derreto-me quando acordada a melodia me chama pelo arco-íris da tua voz.

ESCREVER OS SONS





Escrever para exorcizar.


Cantar para dizer o que não se consegue dizer pela melodia da fala.


Falar para escrever como outro.


Exorcizar pela cor do som baladas de palavras que batem no peito.

OUÇO-TE





Harpejo do teu corpo vibrado pelo meu.


Tocam vozes na rádio que me lembram de ti.


São o diapasão que afina na distância o som que ambos escutamos.

CAIXA DA PAIXÃO




No luto da existência, o sorriso de sabores exóticos.


Tons fortes de tempestades ritmadas a paixão.


Vale a pena a vida.


Cor do som no bater do coração.

INVADO-TE





No teu silêncio a minha voz desperta-te mundos subterrâneos dos quais só nós dois conhecemos as melhores passagens.


Não me reveles.


Deixa-me invadir-te as veias e dar-te vida.

SHHHHH...




Mesmo que o saibas não o digas.


Assim fico presa àquilo que quero ouvir.


Desejo-o.


Evito que o murmures que seja, não expliques o que anseio, quero aguar-me desses sons sussurrados que me fazem cócegas na concha da mão.

QUANTUM




Não avalies a minha quantidade de amor.


O meu humor é uma rédea cortada que surpreende o cavaleiro e está proporcionalmente ligado à loucura da paixão.


São nas esporas da montada que galopo o teu sentir.


Por isso não digas pouco, agarra o que te dou e vicia-te.

EM MOVIMENTO





As cores do som misturam-se no meu peito.


Ressoo ritmos e tons inventados em claves góticas, renascimentos de néon onde a flor se eterniza no plástico da memória.


Exalo melodias que só pela vibração do toque podem ser escutadas.


Movo-me à velocidade do som, penso logo existo.

PARTILHAS




Dá-me as tuas lágrimas que eu dou-te os meus sorrisos.


Dá-me a tua mão que eu dou-te uma viagem.


Dá-me os teus segredos que eu conto-te uma estória.


Dá-me o teu silêncio e eu dou-te a cor do som.

HISTÓRIAS




Repito histórias de amor.


Através dos séculos amo e morro nos teus braços.


No próximo não quero encontrar-te.


Poupa-me à dor de te perder outra vez.

MOLDE




O meu coração não tem forma certa.


Não é alinhado à esquerda.


Nem só de sangue se alimenta.


Toca-me, dá-lhe o molde do teu.


Alquimia do gesto, batida viva que pulsa o querer-te.


POR TODO O TEMPO






Danço por dentro de mim.



Uma dança de chamar a chuva, lavar o feio, regar os sons enraizados do brilho das cores.


Hei-de dançar e dançar até ficar tonta e caír.


Descobri-me como mil bailarinos, mil soldados do sentir.

PESADELOS




No cetim dos sonhos atiras-me despedidas.


Ráfias de pesadelos em queda livre.


Acorda-me e serei salva.


Ao som da tua voz.


Nas cores do teu apelo.

QUERO ARRISCAR (-TE)





Atiro-me à vida como o pianista ao branco-negro.


Toco insanas pautas no risco do solfejo desviado pela tentação do improviso.


Dos dedos há o toque, o relevo e a queda.


Arrisco o abismo do arco-íris para te encontrar nos cinco sentidos.

ARRENDO NOITES







Alugam-se os sentidos no dia dormente e batido na multidão de números.


Alugam-se corações e sorrisos, faz-de-conta que sou feliz.


Lantejoulas e carmim escondem destroços.


A noite veste melhor.


Não se arrenda a boca, trocam-se beijos com sabores tutti-fruti.

CANTOS DO MUNDO





Canta para mim no abraço longo.


Revela-me a tua melodia em tons pastel, vagarosos e quentes.


Aquece-me no som pálido de um original que tenha o meu nome.


Há-de ecoar pelo Universo e ambos seremos uma ária perfeita.

PAIXÃO-PAIXÃO





Em cada sustenido do olhar enegrecem-se pautas no repleto dos sentidos.


Catadupa de sons, turbilhões de desejo, palavras fundidas no disfarce da melodia que faz dançar.


Slow motion em querer-te. Vagarosamente. Sincopadamente. Strobe light de movimento réptil. Noites acesas no fio da navalha. Paixão. Paixão.


Caixa de ritmos que baqueia no corpo. Paixão. Paixão.

COR DE FOGO




Esquece o monocromático.


Esquece o sim e o não.


Este é o tempo da cor do fogo, este é o tempo do pecado, o templo está dentro de mim, os teus passos a porta aberta.


Pinta a música com os gemidos da paixão e rasga as óperas em lágrimas coloridas.

SÓ PARA MIM





A violência do som que só se ouve por dentro é mais forte que a velocidade que ele alcança.


Os ruídos que me enchem de sinfonias são ecos das palavras que um dia falaste ao meu ouvido.


Memorizei-as.


Agora surda sirvo-me delas para ver as cores do alfabeto.

JOGAR





Jogos de sons e cores.


Paleta de paixão e pele, sexo e palavras, vida e condenação.


Jogar a carta trunfada do amor.


Bluff de mão, peço para ver.


Fecho os olhos, encosto a porta, não há vencidos.

PARA SEMPRE




Cristalizo tempos de memória fugaz.

Véus de beijos passados na leveza do verbo amar.

Imortalizo-te no baptismo da recordação.

DIVINAMENTE AMOR



Em todas as formas e saberes.

Sem se saber.

Amar.

Divinamente.